domingo, 31 de outubro de 2010

domingo, 24 de outubro de 2010

Uma dose de Marisa Monte

Infinito Particular




Eis o melhor e o pior de mim,
O meu termômetro, o meu quilate,
Vem, cara, me retrate,
Não é impossível,
Eu não sou difícil de ler,
Faça sua parte,
Eu sou daqui, eu não sou de Marte,
Vem, cara, me repara,
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim,

Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular..

Em alguns instantes.
Sou pequenina e também gigante,
Vem, cara, se declara,
O mundo é portátil,
Pra quem não tem nada a esconder,
Olha minha cara,
É só mistério, não tem segredo,
Vem cá, não tenha medo,
A água é potável,
Daqui você pode beber,

Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dias maus..


São poucos, felizmente são poucos, aqueles dois ou três dias do ano em que estamos chateados, irritados e tristes sem nenhuma razão aparente.

Dias em que nada nos chateia em especial e mesmo assim parece que tudo nos irrita pelo simples fato de estar ali ou pelo fato de não estar, por fazer ou por não fazer, por dizer ou não dizer.

São as viagens, que não matam mas moem, as saudades que só crescem e muitas vezes doem. São as atividades que se sobrepõem e nos obrigam a fazer escolhas que preferiríamos não ter de fazer. Os esforços que nem sempre vemos recompensados, e nem elogiados, as coisas que fogem do nosso domínio atirando-nos à cara a impotência perante certas situações.

As palavras que nestes tempos de distância têm sido as minhas melhores amigas, palavras que num dia conseguem trazer-me tanto significado, alegria e conforto, no dia seguinte parecem vazias de conteúdo. E nada mudou, só a minha disposição em querer mudar... sim sempre quero mudar!

Penso que para isso, é necessário romper barreiras, abandonar as concepções de como a realidade é ou como acreditamos que ela seja. Enxergar onde outros não enxergam, admitir que temos que nos adaptar sempre aos novos acontecimentos e que isto implica em rever constantemente nosso modo de agir, pensar, ver, ouvir, sentir na pele e formar um modo de agir centrado na necessidade de ser o melhor sempre... e ser o melhor significa ultrapassar nossos limites, nossos anseios, nossas dificuldades, nossos traumas, nossas dores e etc. Mas fazer mudanças costuma ser mais complicado do que imaginamos.

Complicado!

E por onde começar?

Acredito que o começo se dá pela humildade em admitir que temos muito a melhorar...sempre!

A graça de viver os dias maus é esperar pelo próximo sol, deixar rolar a lágrima que contém o imperceptível grão da fé necessária para prosseguir. Pelo que penso, a única coisa verdadeiramente boa destes dias, é que temos a certeza que amanhã vai ser MUIIIIITO melhor, que amanhã vou estar animada, contente e alegre. Porque? Porque quero sempre mudar!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Adoção

No direito, a área de família é uma das que mais mexe com a emoção e o sentimento das pessoas e quando se fala em adoção então, se torna uma questão de solidariedade, ou seja, a oportunidade de poder mudar a realidade de uma criança abandonada.

Segundo o dicionário, adoção significa: “aceitação voluntária e legal de uma criança como filho.” Mas a definição, de fato, vai, além disso. É um ato de amor e coragem assumir, sem preconceito ou ressalvas, uma criança e toma para si todas as responsabilidades da vida daquele ser que passou a fazer parte da sua história.

A adoção é realmente um gesto de amor, mas não é só isso. Por tudo o que envolve uma adoção, principalmente por ela se originar do encontro de duas partes que viveram ou ainda vivem situações de sofrimento intenso (geralmente perdas e dor pela infertilidade de um lado, abandono e maus tratos do outro lado), explicar a adoção apenas como um gesto de amor é pouco.

Visto pelo lado do encontro de dois lados sofridos que finalmente se relacionam para vivenciar os afetos, é preciso considerar tudo o que permeia esses dois lados, para que o encontro se dê, cresça e perpetue de modo organizado, sólido e integrado, de modo a que esse encontro se transforme em um relacionamento verdadeiramente familiar. E tudo o que ocorre ao longo desse encontro e dessa caminhada pela construção de um relacionamento familiar tem a ver, não apenas com o surgimento espontâneo ou construído do afeto, mas com o trabalho responsável de alguns profissionais e instituições envolvidas. Tem a ver com cidadania, já que se trata da construção de uma família constituída por laços legais, afetivos e não co-sanguíneos (ou seja, não tem o mesmo sangue) e pelo desejo assumido e consciente de se formar uma família.

Recentemente acompanhei de perto um caso, que mexeu comigo, não pelo fato da adoção em si, mais pela circunstância e dificuldade de resolução do dilema.

Havia uma criança em um abrigo, e dois casais diferentes que visitaram a mesma criança, e os dois casais fizeram o pedido de adoção dessa criança. O que por aí já é uma situação inusitada, porque normalmente, nas cidades existe um cadastro de adoção, e logicamente tem uma ordem esse cadastro. Nenhuma das pessoas que estavam inscritas no cadastro dessa cidade, se manifestou para adotar essa criança. E os dois casais que pediram a adoção não estavam no cadastro.

Então os casais foram a juízo. O juiz logicamente poderia ter usado um critério de, quem fez primeiro o pedido de adoção ficaria com a criança. Mais ele partiu do principio de que uma questão tão importante como essa, não poderia ser resolvida por um critério tão simplório. Porém o drama só aumentava, pois ambos os casais eram absolutamente perfeitos em termos de estrutura, condições financeiras e a criança se dava bem com ambos.

O juiz precisava resolver a situação da maneira mais rápida possível e marcou a primeira audiência. No dia estipulado, na presença de ambos os casais o juiz fala: “essa audiência é para verificar quem prossegue com a adoção”. Talvez o juiz tivesse pensado: “seja qual for minha decisão, o outro casal que perdeu vai recorrer”, só que ele não sabia, era que os advogados de ambas as partes tinham combinado entre si que não importava a decisão do juiz, eles não recorreriam (isso eu sei porque sou amiga da advogada de uma das partes, inclusive ajudei ela nos trâmites do processo).

A audiência corre normalmente e antes de dar a sentença, o juiz então alerta os casais, que haveria uma suspeita de que a criança fosse fruto de um relacionamento entre irmãos, e que como a mãe da criança tinha certo grau de deficiência mental, provavelmente a criança também poderia ter essa deficiência também, e pergunta: “os senhores mesmo assim querem continuar na adoção?”, ambos os casais disseram que sim. Então o juiz deu sua decisão baseado no fato de que um casal já tinha um filho, e o outro casal não, concedendo a adoção para o casal que não tinha nenhum filho.

O que mais me impressionou, foi que ambas as mulheres dos casais começaram a chorar e o juiz vira para o casal que perdeu, olha nos olhos deles, e num gesto de humildade lhes diz: “Srs. eu nunca fiz o que vou fazer agora, e rogo a Deus que seja a minha primeira e última vez, eu peço aos Srs. perdão por essa sentença, eu acredito que ela é justa, porém os Srs. têm todo o direito de discordar” e sai da sala.

Esse caso aconteceu há cinco meses atrás, o casal que perdeu entrou com um novo pedido de adoção e hoje são pais de uma menina.

O que eu quero chamar a atenção nesse post é que muitas vezes nós achamos que a justiça é injusta, que só tem falhas. O juiz não é um ser criado em laboratório que não possui sentimento algum, principalmente o que trabalha na Vara da Infância e Juventude e tem que decidir sobre seres humanos ainda em formação, pois ele tem que ter todo o cuidado de dar preferência aos interesses da criança, tudo visto com muita responsabilidade e principalmente muita serenidade.